segunda-feira, 15 de junho de 2015

Cinema, educação e o povo brasileiro







Os americanos, sempre focados em resultados, usam com habilidade a indústria do cinema para educar. Por meio dela, passam mensagens importantes para desenvolver e fortalecer seu povo e seu país.

No clássico filme "O Gladiador" (2000, direção de Ridley Scott), as lições de liderança são poderosas. Em uma das cenas, o ator Russell Crowe, no papel do mais vencedor dos gladiadores, cai numa cilada juntamente com um pequeno grupo de combatentes. Sem saber o que enfrentariam, o gladiador junta o grupo, estrutura-o em bloco e conclama: "Se ficarmos juntos, e só assim, teremos alguma chance de sobreviver". Ao final, realizam o que parecia impossível: vencem.

Em outro filmaço, "Apolo 13" (1995, direção de Ron Howard), quando a cápsula tem problemas técnicos e o oxigênio a bordo torna-se escasso, a base em Houston se reúne e encontra uma solução. O que se vê nessa cena é uma espetacular lição de trabalho em equipe voltada para a inovação; a ela segue-se uma lição de estruturação de processos para que os tripulantes repitam a bordo a construção da traquitana que havia sido feita em terra.

Liderança, Gestão por Processos, Cultura Organizacional, Foco em Resultados, Produtividade: todos esses componentes, sabemos bem, são essenciais para o sucesso das organizações, sejam elas empresas ou países. Mesmo sabendo disso, não é fácil educar as pessoas para que adquiram esses comportamentos e suas atitudes assegurem sucesso.

Hollywood e a indústria do cinema são craques em passar essas mensagens de forma impactante. É raro que um longa americano não seja também um instrumento de sensibilização e educação para que pessoas e organizações compitam e vençam.

Mais recentemente vi "Whiplash" (2014, Damien Chazelle). O filme impressionou-me muito. Sabemos que as artes exacerbam emoções; como disse Paul Klee, "a arte não reproduz o visível, o faz visível". Enquanto assistia ao filme lembrei-me de meu primeiro chefe, um alemão, ex-Mercedes-Benz, em 1975. Um verdadeiro general. Cruel, frio, intolerante. Mais tarde, no começo dos anos 1980, outro chefe tinha a estranha mania de escolher um de nós para estralar-lhe o pescoço... Tremíamos quando ele entrava na grande sala onde trabalhávamos. É provável que até hoje existam novos Terence Fletcher, o duríssimo maestro de "Whiplash", provocando reações de medo e amor em seus comandados.

Deveríamos olhar para eles como professores durões que nos fazem crescer, e a quem passamos a amar depois, ou como carrascos a serem eliminados nas sociedades maduras? De qualquer forma, a obra possibilita a discussão sobre estilos de liderança em um mundo que busca a comunhão entre resultados, inovação e a alegria de viver.

A despeito de tudo isso, lamentavelmente, nossa população desaprende com novelas e conteúdos desagregadores. Recebe a mensagem de que empresários são bandidos, têm amantes, não pagam impostos e cometem crimes. Em nossos momentos de lazer, quando estamos abertos e vulneráveis a mensagens sub-reptícias, vemos todo tipo de pilantragem. Obviamente, isso fica gravado no subconsciente da audiência.

Mesmo os filmes brasileiros, com raras exceções, são vazios em termos de mensagens sobre competir honestamente e vencer.

Fico imaginando o impacto nocivo disso sobre jovens e adolescentes a quem faltou um exemplo concreto, alguém que passasse ao vivo mensagens positivas de trabalho, luta e sucesso. Valores são transmitidos, quase sempre, por pessoas a quem admiramos. Por isso ainda encontra tanto eco a frase bíblica sobre "o exemplo que arrasta".


Cinema, TV e teatro são território de ídolos. As atitudes deles em cenas exaltam valores e crenças capazes de desencadear no espectador comportamentos positivos - ou negativos. É por isso que as "cinelogias", como conceituadas pelo italiano Antonio Meneghetti, são muitas vezes usadas por nossa equipe de educadores nos cursos para fixar mensagens, chamar a atenção para atitudes, resgatar valores. E têm grande impacto e bons resultados.


Estamos muito atrasados em educação. Não podemos perder nenhuma oportunidade para educar. Nenhum canal. Temos que unir forças - diretores e roteiristas de cinema, de TV, de teatro - pela educação do nosso povo. Consultores organizacionais também, selecionando as mensagens-chave. Juntos podemos divertir e educar. Afinal, a arte nos faz rir e chorar, mas também pode nos fazer aprender e evoluir.

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